sábado, 11 de dezembro de 2010

MAIS TRÊS CONTOS A CONCURSO

CONTO Nº 4 – O PRESENTE
O presente.
Lembro-me dos dias que antecediam o evento: O sol no quintal, o verde das árvores, o vento delicado bailando as folhas. Mas uma preocupação me entristecia: Por que eu não ganhava presente do papai Noel? A resposta chegou rápido em minha mente infantil. O problema era a chaminé. Na minha casa, simples do interior de São Paulo, não havia uma. Ah, que desejo latente de ter uma em minha sala... E o problema só podia ser este. Percorri minha memória tentando encontrar algum conhecido que tivesse. Mas quem tinha? Seria possível alguém ter uma chaminé em um país tão quente? Pra que? No meu limitado mundo, julguei que chaminé era algo de gente distante, de país longínquo, ou dos filmes de TV. E então, minha amargura tomava grandeza. Sentada no degrau da porta da cozinha, olhando ainda para as árvores do quintal, pensava o quão injusto tudo aquilo me parecia. Havia muitas pessoas como eu... E o que podíamos fazer? Minha mente não se aquietava. Haveria de ter uma maneira de resolver o impasse... Haveria! Eis que meus olhos bravos correm todos os cantos do quintal procurando uma resposta. E logo pousaram arregalados encima do telhado da varanda. Lá estava uma chaminé! Minha mãe, mesmo com tendo fogão a gás, não abandonou o costume de usar o forno a lenha. E logo acima dele, a desejada chaminé. Corri animada para a varanda. E com os olhos arregalados, novamente fiquei intrigada: “Como papai Noel, tão gordinho, passaria por uma chaminé tão magricela? Estava travado o conflito: A voz que dizia que a chaminé era estreita demais e uma outra que dizia que isso era problema do papai Noel. Enquanto as vozes conflitavam, corri feliz fazer a carta revelando o brinquedo que queria. E, logo em seguida, pousei o papel branco entre as cinzas. Bem no fundo, bem na direção do tubo da chaminé. Era melhor facilitar as coisas. A emoção era tamanha que não me preocupei se faltavam muitos dias para a noite natalina. Horas depois, para minha indignação, lá estava a chaminé magricela baforando fumaça. Corri até a varanda, mas era tarde demais. Minha carta já havia sido consumida pelo fogo. Os dias passaram, não quis mais saber dessa coisa de chaminé, de presente. Se papai Noel existisse de verdade, haveria de arrumar outro jeito de me presentear. O natal chegou e passou. Quanto me dei conta, minha mãe arrumava meus irmãos para almoçarmos na casa de uma tia. Era dia 25 de dezembro. A noite especial? Já havia passado. E eu, mal percebi. Foi uma noite como todas as outras. E isso me intrigou muito. Havia algo de errado com as minhas noites natalinas.
Algum tempo depois. Tinha desistido de vez dessa história de ganhar presente. Quando que veio a notícia que meus tios viriam passar o Natal em minha casa, e para comemorar os visitantes, meus pais fariam uma ceia. Sabíamos que não haveria presente pra ninguém, muito menos papai Noel. Mas, mesmo assim, havia algo de mágico no ar. A casa lotada; animada, dez irmãos arrumando-se para algo especial, os primos chegando... Meus pais na cozinha preparando o melhor jantar que podiam. Quanta expectativa. Ao dar meia noite, os gritos dos meus tios de boas festas, os irmãos se abraçando... Felicidade. Somente felicidade. Descobri naquela noite, que a felicidade era o melhor presente que poderia ganhar.

CONTO Nº 5 - "CRESCER..."Foi no natal que eu te conheci, mascaraste-te de anjo e conquistaste-me.
trouxeste à minha vida o amor que julgava não existir; amor de mãe!
mas, afinal tudo não passou de uma desilusão, porque palavras não preenchem o silêncio quando tudo o que queremos é um abraço.
lutei por ti, tanto mas tanto, mas sempre em vão, porque não eras o que dizias.
e num dia em que a chuva caia, e as folhas estalavam quando as pisava, esqueci-te!
esqueci-te, mas fica a ferida da tua desistência; esqueci-te mas fica o medo de acreditar outra vez;
esqueci-te mas lembro-te em cada instante.
agora sigo de cabeça erguida mas com medo de tudo e todos, receio de me magoar.
hoje olho o céu e fecho os olhos, e penso que afinal de algo me serviu... perceber quem realmente me ama,
aprender a dar valor a quem me quer bem, e apesar de tudo nunca deixar de ser eu...
eu sou eu; com uma ferida na alma...


CONTO Nº 6 - A MAIS BELA PRENDA DE NATAL
Acordei sobressaltada com o som do despertador que se recusava a parar. Se calhar queria que acordasse rapidamente mas os olhos recusaram-se a abrir e um bocejar deu a entender que ainda era cedo.
Espreguicei-me, silenciei o despertador e continuei de olhos fechados saboreando o conforto da cama. Lá fora o vento soprava de mansinho, ouvi o barulho do espanta espíritos pendurado no terraço no inicio da Primavera e uma voz interior que teimava em segredar-me uma boa noticia. Oh, estava para breve a entrega da minha prenda de Natal. Aconcheguei a roupa e desejei ter ali a minha mãe com aquele ar bondoso e meigo. O brilho intenso do primeiro raio de sol entrou pela janela do meu quarto acariciando-me o rosto. Acreditei que tinha sido enviado por ela; afinal podia estar ali e no céu ao mesmo tempo. Sorri ao lembrar-me que faltavam apenas 19 dias para celebrar mais um Natal. Vieram-me recordações à memória: gostava do frio do mês de Dezembro, dos nevões que tornavam a minha cidade linda, dos Natais da minha infância onde não faltava o presépio, a missa do galo, o pão do Menino Jesus e o sorriso da minha mãe. Cheiros e sabores misturaram-se harmoniosamente na minha mente conseguindo imaginar cada momento feliz que tinha passado. Para mim o Natal era mágico. Voltei a sorrir acariciando o corpo suavemente sentindo a vida pulsar dentro de mim. Sabia que grandes e novas emoções me esperavam, o coração bateu devagarinho e agradeci aquele novo amanhecer.
Levantei-me a custo, abri a porta do quarto do meu filho e beijei os cabelos dourados que emolduravam o seu rosto lindo e inocente. Parecia um anjo!
Ali estava o ser mais importante da minha vida e agradeci a Deus aquela dádiva maravilhosa. Dois fortes pontapés, no meu ventre, lembraram-me que não era altura para recordações, lembranças de infância com cheiro a bolinhos de jerimú e bolsos cheios de confeitos.
- Tiago, sabes que o maninho(a) está quase a chegar, perguntei?
- Sei, o papá já me disse, respondeu com ar malandreco.
- Estás feliz?
- Sim, já sei que vou ter com quem brincar, mas gostava tanto de ter uma maninha!
Oh mamã, vai ser uma maninha, não vai?
Batia as palmas de contente e um brilhozinho no seu olhar confirmou toda a sua agitação e impaciência…andava assim há já alguns dias.
- Não sei, respondi pensativa. Talvez seja!
Senti que a sua impaciência era grande, tão grande como a minha.
Seria perfeitinho? Seria menino ou menina?
Deixei-o entregue aos cuidados da Tité e prometi voltar em breve.
Eram 13h quando colocaram uma linda menina nos meus braços. Um choro que cessou ao encostar a sua cabecinha ao meu peito, fez-me abrir os olhos. O primeiro olhar, o primeiro beijo, o primeiro abraço tornou-me no ser mais feliz do mundo.
Uma menina!
Estaria a sonhar, estaria ainda adormecida ou estava a viver aquele momento feliz, consciente do que acabava de me acontecer?
Durante toda a gravidez desejei ter uma menina, uma filha de corpo e alma, e ali estava ela encostada ao meu peito, parecendo uma estrelinha brilhante caída do céu. Apertei-a contra o peito com muito amor, sentindo que a partir daquele dia nada seria como dantes. As lágrimas correram pelo meu rosto ainda jovem e agradeci aquele momento único e de rara beleza. Passaram alguns dias e a noite de Natal chegou!
Uma vez mais nos reunimos e naquele ano a menina pequenina, tão linda, serviu de Menino Jesus àquela família numerosa e unida. Estava feliz e sabia que todos celebravam comigo essa felicidade. Este presente Divino, no Natal de 1979, mudou para sempre a minha vida. A nossa ligação foi e é tão forte que hoje, passados 31 anos, olho com amor e gratidão a filha que em breve será mãe.
A vida é um milagre! Um milagre que acontece quando compreendemos que a vida é simplesmente amor.

1 comentário:

Beijinhos de cor disse...

Querida Licas
Li estes e os outros e gostei muito...
aguardo os outros!
Beijinhos com Pó de Estrela