segunda-feira, 30 de junho de 2008

NO RESCALDO DO CAMPEONATO DA EUROPA...




Terminou ontem a grande festa do desporto.
Será que foi festa?
Será que foi grande?
E Desporto, será que foi?

Sempre e cada vez mais me questiono sobre o desporto no mundo. À priori devia ser o ponto de encontro de referências e valores e o espelho bom para a maioria dos nossos jovens.
É isso a que assistimos?
Julgo que não.
Mais ainda julgo que está a tornar-se, sobretudo o futebol, num espelho rachado que reflete imagens distorcidas, fragmentadas, mas coloridas artificialmente para que os mais incautos se deixem penetrar por elas.
Preocupa-me uma histeria colectiva, ridícula e incompreensível que se vive um pouco por todo o lado. Não me refiro à alegria de ver e sentir a selecção do seu país, de cantar em todo o lado e de qualquer maneira o hino nacional,de se dar uso à bandeira nacional, de se ficar preso a um ecrã para assistir ao seu jogo predilecto.

Não, o que me preocupa é o à vontade com que se fala dos ordenados, das vidas de luxo e prazer e das leviandades de certos jogadores e paralelamente se aborda o desemprego crescente no país, o aparecimento de "novos pobres", a ausência de bens essenciais numa grande parte das famílias portuguesas, ou seja, preocupa-me a desiguladade gritante.

Mas, para esta dúvida gostava de uma resposta ...

Porque será que todos, mesmo os mais necessitados, aceitam tão bem, sem críticas nem objecções, os rendimentos destes homens que pisam os relvados, que se esforçam sim, mas que até têm a sorte de trabalharem naquilo que gostam e na profissão que escolheram?
Quando permaneci 10 anos em serviço no bairro do Porto mais problemático sócio-económicamente, ouvia e ainda hoje ouço, as pessoas revoltarem-se contra os vizinhos, os patrões, os governantes por terem o que a eles lhes era vedado, por frequentarem festas e fazerem viagens terem este ou aquele comportamento mais extravagante, mas...ao falarem do jogador A,B ou C, tudo parecia estar certo, tudo se justificava e apreciava

Porquê?

Ah!!!! E ainda...

Porque é que em nome do desporto se esquecem regras elementares de educação e convivência, se utiliza com o maior dos à vontades e em qualquer lugar, o "dicionário das dificuldades", a agressão verbal e física?
Porque é que, para festejar um acontecimento feliz, a conquista de uma taça, se sacrifica a integridade pessoal e colectiva?

Gostava muito de perceber.

Oxalá que um dia, talvez tarde demais, não deparemos com um mundo transformado numa Bola Furada


Sempre atenta
Licas

sábado, 28 de junho de 2008

ESCOLA OU FAMÍLIA A TEMPO INTEIRO???

O texto seguinte dá pelo menos para pensar e se calhar até, podermos tecer sobre ele algumas considerações.

Qual a vossa opinião?

"Por vezes é necessário abandonarmos o carreiro simples, mas estreito, do politicamente correcto e da sabedoria convencional, dos chavões adquiridos, das frases feitas e tentar pensar as coisas de outra forma, olhando-as de um novo ponto de vista.

A Escola a Tempo Inteiro é apresentada como uma grande conquista da acção deste Governo, deste ME, aplaudida pela Confap actual e por diversos opinadores (preo)ocupados com a situação das crianças, cujos pais não conseguem acompanhar devidamente e, por isso, devem ser deixadas mais de 10 horas 'nas mãos' (não gosto da expressão por uma multiplicidade de razões) do(a)s professore(a)s.

É um excelente exercício de spin sobre a admissão clara de um fracasso do Estado Social e a demissão de quem representa as 'famílias' de efectivamente as defender pela via certa que deveria ser a da 'Família a Tempo Inteiro' ou, no mínimo, a 'Família a Meio-Tempo'.

Porque parece que as coisas mudaram de lugar e a lógica se retorceu por completo neste país, nestes tempos. Com que então a Escola a Tempo Inteiro é uma grande conquista social? Porquê?

Não seria antes uma conquista ter-se conseguido desenvolver o país para que as 'famílias' pudessem dispor de condições para estar perto dos seus filhos todo o tempo possível?

Conheço algumas pessoas a trabalhar em países consensualmente tidos como mais avançados do que Portugal, leia-se, Norte da Europa ou mesmo Costa Leste dos EUA.

Curiosamente, nesses países a Escola a Tempo Inteiro, em particular a Pública para os mais novos, não existe em muitas zonas e esse é um sinal do progresso dessas sociedades.

Porquê?

Porque existe uma efectiva protecção social à maternidade, que permite que as mães fiquem - se assim o quiserem - os primeiros anos de vida do(a)s seus(uas) filho(a)s em casa sem perda do posto de trabalho e vencimento. Porque os horários de trabalho são flexíveis, não para obrigar mães e pais a voltar a casa tardíssimo, mas para que possam recolher os seus filhos às 2 ou 3 da tarde, no máximo.

Porque se atingiram estados de desenvolvimento económico e protecção social inimagináveis para nós e que, mesmo em retrocesso, ainda estão muito à nossa frente.

Por isso, a Escola a Tempo Inteiro é apenas algo que se destina a apaziguar as 'famílias' que, cada vez mais, são obrigadas a trabalhar em condições mais precárias e vulneráveis. Que não podem faltar, sob pena de perda do posto de trabalho no final do contrato. Que são obrigadas a cumprir horários incompatíveis com uma vida familiar harmoniosas. Numa altura em que, cada vez mais, as famílias são menos do que nucleares.

A Escola a Tempo Inteiro é um óptimo contributo para todos os empresários e empregadores que defendem a desregulação - pelo abuso - do horário de trabalho dos seus empregados. Se é isso que vai desenvolver o país? Abrindo mais umas dezenas de centros comerciais para as 'famílias' tentarem desaguar as frustrações ao fim de semana?

Quem defende as 'famílias' deveria defender, em coerência com os seus princípios, que o Estado protegesse a vida das ditas 'famílias' a partir da melhoria das suas condições de vida. A defesa da Escola a Tempo Inteiro é a admissão de um fracasso, de uma derrota e não o seu contrário.

Eu, por exemplo, preferia viver num país com horários de trabalho que permitissem que os encarregados de educação dos meus alunos pudessem comparecer na escola num horário de atendimento civilizado e não em reuniões pós-laborais para todos. Gostaria de eu próprio não depender da Escola a Tempo Inteiro se o pudesse evitar.

Mas não. O Portugal Socrático, moderno e tecnológico, é um país falhado, com uma sociedade fragmentada e crescentemente fracturada e desigual. E o projecto democrático europeu dos últimos 20 anos - desde a adesão à CEE que trouxe fundos em forma de chuva grossa e os trará até 2013 - foi um projecto que falhou em tornar um país mais coeso, mais solidário, mais avançado em termos de conquistas sociais, só possíveis se o resto tivesse funcionado. Mas não funcionou. Ou funcionou apenas para alguns. Que são os que têm acesso a uma voz pública em nome do seu sucesso. E que depois palpitam sobre o tudo e o nada, sobre o que conhecem e desconhecem. Que têm serviçais para tratar das coisas chatas como ir buscar os 'puto' à escola. Que só fazem por desfastio, em muitos casos.

As 'famílias' comuns, essas, na sua grande maioria, podem olhar para a Escola a Tempo Inteiro como uma válvula de escape, uma almofada que amortece um maior choque da sua vulnerabilidade, mas é apenas isso mesmo, um estratagema para tornar um pouco mais suportável o que deveria ser visto como insuportável e intolerável.
A Escola a Tempo Inteiro é um projecto de sucesso se assumirmos que entre nós o Estado Social falhou irremediavelmente.
A Família a Tempo Inteiro, isso sim, teria sido uma enorme conquista e a marca do sucesso de um Portugal desenvolvido."

sexta-feira, 27 de junho de 2008

OLÁ, REGRESSEI!

É verdade!
Regressei do tal solzinho reconfortante para os ossos.
Trouxe comigo esta canção de Rui Veloso, bem a propósito dos namoricos de verão...

Estas duas semanas foram de descanso, reflexão e até de avaliação de um ano de trabalho.
Apesar de no princípio o tempo não estar famoso, aproveitei para dar umas braçadas na piscina, apanhar umas tantas ondas ultra-violetas, andar ... andar muito e sobretudo pôr a leitura em dia.
Que bem que me souberam todos estes momentos vividos a dois.

Mas acreditem!
Também senti falta deste espaço.
Falar convosco dá-me alento e entusiasma-me.
Faz-me sentir mais jovem, porque aprendo e partilho alguns dos meus conhecimentos.
Por falar nisso vou recomendar-vos dois livros que acabei de ler: Um, o 1808, de carácter histórico. Conta-nos a partida e estadia da família real no Brasil de 1808 a 1821. É interessante!
Quem ainda acredita em histórias de príncipes e princesas a viverem num grande fausto, cheios de mordomias e com tratamento e higiene VIP, desengane-se ...

O outro um romance de Modignani - A Cor da Paixão - Retrata uma vida de coragem, amor e ódio de uma jovem do nosso tempo.
Leiam! É levezinho, próprio para umas férias na praia ou no mais recôndito espaço rural.

E vós, que me contam?

Um abraço
Licas

sexta-feira, 13 de junho de 2008

ATÉ BREVE!




Com estas fotografias das nossas praias do Algarve, me despeço.
Vou apanhar um pouco de sol, para tentar melhorar estes ossos que aos poucos me vão fazendo lembrar que já passei bastante verões.

Espero vir mais reconfortada e encontrar as vossas mensagens e comentários.
Fiquem bem e divirtam-se!

Até brave.
Licas

quinta-feira, 12 de junho de 2008

FRANZ LISZT


Franz Liszt (1811-1886) Húngaro

A peça musical que acompanhou este blog, até eu regressar de umas férias à beira-mar, foi o Sonho de Amor de Liszt.

Na altura em que coloquei essa música, deixei um pouco da biografia deste compositor do século XIX e mantenho-a hoje, embora a música de abertura não seja a mesma, para que sirva por mais uns tempos de informação aos interessados.

Liszt, compositor e pianista húngaro nasceu em 1811, em Raiding, na Hungria, e morreu em 1886, em Bayreuth, na Alemanha. Entre as suas composições mais notáveis encontram-se doze poemas sinfónicos, dois concertos para piano, vários trabalhos corais e uma enorme variedade de peças para piano.

Aos seis anos revelou tanto talento para o piano, que o príncipe Nicolas Esterházy proporcionou à família Liszt meios para se instalar em Viena, para que Franz tivesse a educação musical adequada. Aos oito anos era já aluno de Czerny, de quem recebeu uma sólida preparação pianística e musical, incluindo a técnica de leitura de pauta à primeira vista e a improvisação. Mais tarde, a sua memória era tal que era capaz de tocar de cor partituras complexas que ouvira apenas uma vez. No entanto, em 1823, não foi autorizado a ingressar no Conservatório de Paris por ser estrangeiro, o que o levou a concluir sozinho a sua preparação pianística, continuando com Anton Reicha e com Ferdinando Paër os estudos de composição que começara com Salieri. Pouco depois, viajou por vários países europeus, onde obteve uma enorme fama de concertista. Nessa altura, relacionou-se com Victor Hugo, com Lamartine, com G. Sand, com Chopin e com Berlioz.

Depois da revelação de Paganini, em 1831, Liszt mostrou-se tão interessado que resolveu transferir a técnica do violinista para o seu piano, compondo uma fantasia na peça Campanella. Nessa altura, conheceu Frédéric Chopin, cujo estilo poético musical exerceu em si uma enorme influência. Entre as suas 700 composições, destacam-se Sinfonia Revolucionária (1830), Rapsódias Húngaras (1839-40), A Faust Symphony (1854), A Symphony to Dante's Divina Commedia (1855-56), Sonata para Piano em Si Menor (1852-53), Concerto para Piano e Orquestra N.º 1 em Mi Bemol Maior (1849) e Concerto para Piano e Orquestra N.º 2 em Lá Maior (1839).

Liszt não foi apenas o maior pianista da sua época, foi também um compositor extremamente original e uma figura de destaque no movimento romântico. Como professor, formou alguns dos maiores pianistas da geração seguinte. O seu estilo pianístico, que influenciou Debussy e Ravel, caracterizava-se pela flexibilidade, pela liberdade de execução, pela procura de sonoridades novas e efeitos orquestrais. Quanto ao seu estilo cromático, exerceu uma enorme influência em Richard Wagner. Liszt foi também o criador do poema sinfónico para orquestra e do método de "transformação de temas", em que cada um dos temas, em diferentes formas, pode fornecer bases para um trabalho inteiro. Todas as suas inovações permitiram-lhe desempenhar um papel determinante na música moderna.

quarta-feira, 11 de junho de 2008

PRIMEIRO "PRESENTE" AO DESAFIO

Caros Amigos
No dia 20 de Maio lancei a todos um desafio. Lembram-se?

Exactamente ... Cada um à sua maneira, iria tratar o tema : A Família - Transmissão de Referências e Valores.

O prazo máximo é o fim de Setembro.

Pois para minha grande alegria recebi hoje a primeira participação.
Ela veio de S, que assina o blog "O TEMPO DOS ANJOS". esta nossa amiga ou amigo (não é identificável no perfil) encontrou na transcrição de um texto que lhe veio ter às mãos, a forma de nos fazer reflectir.

Obrigada!

Deixo aqui o que me enviou:

Deus abençoe os pais maus!

Um dia, quando os meus filhos foram crescidos o suficiente para entenderem a lógica que motiva um pai, eu hei-de dizer-lhes:


- Amei-vos o suficiente para ter insistido para que juntassem o vosso dinheiro e comprassem uma bicicleta, mesmo que eu tivesse possibilidades de a comprar.

- Amei-vos o suficiente para ter ficado em pé junto de vós duas horas enquanto limpavam o vosso quarto - trabalho que eu teria realizado em quinze minutos.

- Amei-vos o suficiente para vos obrigar a pagar a pastilha que "tiraram" da mercearia e dizer isto ao dono: eu roubei isto ontem e hoje queria pagar".

- Amei-vos o suficiente para ter ficado em silêncio, para vos deixar descobrir que o vosso novo amigo não era boa companhia.

- Amei-vos o suficiente para vos ter deixado assumir a responsabilidade das vossas acções, mesmo quando as penalizações eram tão duras que partiam o coração.

- Amei-vos o suficiente para vos ter perguntado onde vão, com quem vão e a que horas regressam a casa.

- Amei-vos o suficiente para vos deixar ver fúria, desapontamento e lágrimas nos meus olhos.


- Mas, acima de tudo, eu amei-vos o suficiente para vos dizer NÃO quando sabia que me iriam odiar por isso.


Estou contente. Venci, porque no final vocês também venceram. E qualquer dia, quando os vossos filhos forem suficientemente crescidos para entenderem a lógica que motiva os pais, quando eles vos perguntarem se os vossos pais eram maus, vocês irão dizer-lhes : Sim, eram os piores pais do mundo!, porque:

- Enquanto os outros miudos comiam doces ao pequeno-almoço, nós tinhamos que comer cereais, tostas e ovos.

-Os outros miudos bebiam pespsis ao almoço e comiam batatas fritas, enquanto nós tinhamos que comer sopa, prato e fruta. E não vão acreditar!, os nossos pais obrigavam-nos a jantar á mesa, o que era bem diferente dos outros pais.

- Os nossos pais insistiam em saber onde nós estávamos a todas as horas, era quase uma prisão. Tinham que saber quem eram os nossos amigos e o que faziamos com eles.

- Insistiam em que lhes disséssemos que iamos sair mesmo que demorássemos só uma hora ou menos.

- Nós tinhamos vergonha de dizer mas eles violaram uma data de leis do trabalho infantil: nós tinhamos que fazer as camas, lavar a loiça, aprender a cozinhar, aspirar o chão, engomar a nossa roupa, ir despejar o lixo e todo o tipo de trabalhos cruéis. Eu acho que eles nem dormiam a pensar em mais trabalhos para nos mandar fazer.

- Eles insistiam conosco para lhes dizermos a verdade e apenas toda a verdade, sempre a verdade.

- Na altura da nossa adolescência eles conseguiam ler os nossos pensamentos, o que tornava a vida mesmo chata.

- Os nossos pais não deixavam os nossos amigos buzinar para a gente descer. Tinham que subir e bater á porta para eles os conhecerem.

- Enquanto toda a gente podia sair com 12 ou 13 anos, nós tivémos que esperar pelos 16.

-Por causa dos nossos pais, nós perdemos experiências fundamentais da adolescência: nenhum de nós esteve alguma vez envolvido em actos de vandalismo, em roubos, violação de propriedade, nem foi preso por algum crime.


Foi tudo por causa deles.
Agora que já saimos de casa, somos adultos, honestos e educados, estamos a fazer o nosso melhor para sermos "maus pais" tal como os nossos pais o foram.

Eu acho que este é um dos males do mundo e hoje: não há suficiente "PAIS MAUS".

Abençoados pais! Bom fim-de-semana.

quinta-feira, 5 de junho de 2008

SÓ MAIS UMA HABILIDADEZITA !






UMA CAIXINHA COUNTRY PARA O CHÁ.
Vou saboreá-lo no meu cantinho com vista para o Tâmega.

Bom fim de semana!
Beijinhos
Licas

FESTAS DE S. JOÃO



Como provavelmente não poderei postar nada mais antes do S. João, não quero deixar de prestar homenagem a este santo intimamente ligado à Cidade do Porto e de partilhar com todos a origem e significado desta festa popular que transforma uma noite de verão, numa noite mística e até digamos, fraterna.

A HISTÓRIA

S. João do Porto, eremita natural do Porto, ( séc. IX ), viveu a sua vida eremítica na região de Tuy, em frente a Valença, tendo sido sepultado em Tuy. No séc. XVII ainda aí se conservavam as sua relíquias, de grande veneração entre os fieis, que acreditavam que S. João os salvaria das febres. Diz a tradição , que a cabeça de S. João do Porto, foi trazida pela Rainha Mafalda no séc. XII, para a Igreja de São Salvador da Gandra e que parte dessa relíquia teria sido levada para a capela da " Santa Cabeça ", na Igreja de N ª Sra. Da Consolação, na Cidade do Porto. O facto da sua festa se ter celebrado a 24 de Junho talvez explique o facto de ter o seu culto sido absorvido pelo de S. João Baptista, cujo nascimento ocorreu no mesmo dia 24 de Junho. O povo dedicou a este santo através dos tempos, forte devoção e grandes festas, mantendo-se ainda hoje muito viva a tradição das fogueiras de S. João de origem muito antiga, ao mesmo tempo que substituíam as festas pagãs do solstício.

Festa de forte caris popular, o S. João do Porto nasce espontaneamente. É normalmente depois do jantar do dia 23 de Junho, constituído por sardinhas assadas, batatas cozidas e pimentos ou entrecosto e fêveras de porco na brasa,que os grupos de amigos começam a encontrar-se, organizando rusgas de S. João, como são chamadas.
As pessoas inicialmente, muniam-se de alhos pôrros e molhos de cidreira, para baterem suavemente na cabeça de quem por elas passavam, promovendo uma interligação alegre e amistosa entre as pessoas. Actualmente as "armas" são outras, mudaram para martelos de plástico, duros e ruidosos, mas que acabaram por ser bem aceites e hoje já fazem parte da tradição.
Há alguns anos atrás, o S. João limitava-se a uma área central da cidade desde as Fontainhas até à Praça de Lisboa, e no retorno, subindo-se a R. de S. António, estava praticamente concluído o percurso obrigatório pela baixa da cidade.
Este percurso, que junta para cima de meio milhão de pessoas, que torna as ruas pejadas de gente, não há geralmente atropelos e as possíveis zaragatas são de imediato sustidas pelos populares.
Hoje em dia a festa do S. João, estendeu-se até a Ribeira e à Boavista e Praias da Foz.

O S. João do Porto é uma festa onde ricos e pobres convivem uma noite de inteira fraternidade e onde a festa é constante.


Mas muita da tradição ainda se mantém: Em barracas ou espalhados pelo chão lá estão os manjericos ( Planta tradicional do S. João ) , as tendas das fogaças, as farturas, o algodão doce, as pipocas, as barracas da sardinha assada e dos comes e bebes. Os matraquilhos, os carroceis, as pistas dos carros. As tendas de venda das louças de barro, das cutelarias, o tiro ao alvo e as tômbolas. Durante toda a noite, centenas de balões são lançados e muito fogo de artificio particular é queimado, pela meia-noite o tradicional fogo de artificio da Câmara Municipal, faz sempre furor pela sua beleza. No fim e já alta madrugada é ver os foliões procurarem as padarias onde o pão acabado de fazer e ainda quentinho vai confortar as barrigas para um merecido descanso.


A História de um Feriado

( Texto original, publicado na Revista Ponto de Encontro de Julho de 2001 )


Os festejos de S. João na cidade do Porto são já seculares e a origem desta tradição cristã remonta mesmo a tempos milenares. Mas foi só no século XX que o 24 de Junho passou a ser feriado municipal na Invicta, proporcionando um merecido dia de folia a milhares de tripeiros. E tudo graças a um decreto republicano e a um referendo aos portuenses, promovido pelo Jornal de Notícias. A história é curiosa e mostra o protagonismo que, já na altura, a Comunicação Social tinha no modus vivendi urbano. Estávamos em Janeiro de 1911 e a República Portuguesa dava os primeiros passos. A monarquia tinha sido destronada apenas três meses antes, com a revolução de 5 de Outubro de 1910. O Governo Provisório da República assumia a governação do país e, desde logo, começava a introduzir mudanças na sociedade portuguesa que espelhavam, muito naturalmente, os ideais da nova ordem republicana. Numa tentativa de implementar a nova ordem junto da população, o Governo Provisório redefiniu os dias feriados em Portugal. Por decreto, a República instituiu como feriados nacionais o 31 de Janeiro (primeira tentativa - falhada - de revolução republicana, em 1891, no Porto), o 5 de Outubro (instauração da República) e o 1º de Dezembro (restauração da independência em 1640), para além do Natal e do Ano Novo. Mas o mesmo decreto impunha, a cada município do país, a escolha de um dia feriado próprio: "As câmaras ou commissões municipaes e entidades que exercem commissões de administração municipal, proporão um dia em cada anno para ser considerado feriado, dentro da area dos respectivos concelhos ou circumscripções, escolhendo-os d'entre os que representem factos tradicionaes e característicos do município ou circumscripção". E foi com este propósito que a Comissão Administrativa do Município do Porto reuniu a 19 de Janeiro de 1911. Segundo o relato do Jornal de Notícias, o "velho e conceituado republicano, sr. Henrique Pereira d'Oliveira" logo sugeriu a data de 24 de Junho para feriado municipal. O facto não causa espanto. Afinal de contas, o S. João era, já na altura, uma festa com longa tradição na cidade do Porto. A primeira alusão aos festejos populares data já do século XIV, pela mão do famoso cronista do reino, Fernão Lopes. Em 1851, os jornais relatavam a presença de cerca de 25 mil pessoas nos festejos sanjoaninos entre os Clérigos e a Rua de Santo António e, em 1910, um concurso hípico integrado nos festejos motivou a presença do infante D. Afonso, tio do rei (a revolução republicana apenas se daria em Outubro).

Referendo popular

Contudo, a sugestão de Henrique d'Oliveira de eleger o S. João como feriado municipal da Invicta foi contestada por outros membros da Comissão Administrativa do Município do Porto, que mostraram opiniões diversas. Foi então que "o sr. dr. Souza Junior lembrou, inspirado n'um alto princípio democrático, que não devia a Commissão deliberar nada sem que o povo do Porto, por qualquer forma, se pronunciasse em tal assumpto". Para solucionar o imbróglio, o Jornal de Notícias dispôs-se a organizar um surpreendente referendo popular para escolher o feriado municipal. Logo no dia 21 de Janeiro, somente dois dias após a reunião da Comissão Administrativa, foi colocado na primeira página do jornal o anúncio da "Consulta ao Povo do Porto", explicando toda a situação e a forma de participação. As pessoas teriam que enviar, até ao dia 2 de Fevereiro, "um bilhete postal ou meia folha de papel dentro de enveloppe" para a redacção do jornal, com a indicação do dia de sua preferência. E, para recompensar o trabalho dos leitores, o Jornal de Notícias oferecia "dez valiosos premios" - o mais valioso era de 10 mil réis, cerca de cem escudos - a serem sorteados de entre todos aqueles que votassem no dia eleito. Nos dias seguintes, o Jornal de Notícias fez o relato diário da emocionante votação. A vitória foi quase só discutida entre o dia de S. João, já com larga tradição na cidade, e o 1º de Maio, Dia do Trabalhador, a que não será alheio o facto de a cidade do Porto ser considerada "a capital do trabalho". No dia 22 de Janeiro já se davam conta dos primeiros resultados: "a votação de hontem, que foi grande, dá maioria ao 1 de Maio, seguido pelo 24 de Junho (S. João) e N. S. Conceição [8 de Dezembro]". No dia 24 - o Jornal de Notícias não foi publicado no dia 23, segunda-feira, porque o matutino encerrava ao domingo! -, deu-se uma reviravolta nos resultados: o 24 de Junho trocava de lugar com o 1º de Maio, ficando na posição de mais votado. Porém, a 25, num dia em que "a votação cresceu imenso", o 1º de Maio quase passava novamente para a liderança da votação. Mas foi no dia 26 de Janeiro que o resultado da votação começou a ficar definido, ao que muito se deve a forte participação popular do dia anterior, como relata o Jornal de Notícias desse dia: "Só hontem vieram tantos votos como em todos os dias anteriores. O dia de S. João tem enorme maioria. O dia 1 de Maio já está muito em baixo". E, a 27, o próprio jornal já dava como certo o vencedor: "Positivamente o dia mais votado é o de S. João. O dia 1 de Maio fica muito para trás. Augmenta bastante o de N. S. Conceição". Durante os dias seguintes foram publicados os resultados provisórios diários, sem que tivesse havido alterações de maior no sentido de voto dos portuenses. Até que, a 4 de Fevereiro de 1911, foram publicados os totais finais da consulta popular: o dia 24 de Junho foi o mais votado, com 6565 votos, seguido pelo 1º de Maio, com 3075 votos, o dia de Nossa Senhora da Conceição, com 1975 votos, e o dia 9 de Julho, com oito. "Ficou, pois, vencedor o dia de S. João que é aquele que o povo do Porto escolhe para ser o de feriado municipal". Só não se sabe se o vencedor do sorteio chegou a receber os seus 100 escudos, pois registada só ficou a promessa de que "o sorteio dos 10 prémios a que esta consulta dá lugar far-se-á em um dos próximos dias"...

Texto originalmente publicado na revista "Porto de Encontro", Julho de 2001.

10 DE JUNHO


DIA DE PORTUGAL, DE CAMÕES E DAS COMUNIDADES PORTUGUESAS NO MUNDO

As origens do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades remotam ao ínicio do século XX (1924). O Dia de Camões começou a ser festejado a nível nacional com o Estado Novo (um regime instituído em Portugal por António de Oliveira Salazar, em 1933).

Segundo Conceição Meireles (investigadora especialista em História Contemporânea de Portugal), Luís Vaz de Camões (Data de nascimento: provavelmente entre 1517 e 1524 — Data de falecimento: 10 de Junho de 1580) é frequentemente considerado como o maior poeta de língua portuguesa e dos maiores da Humanidade. O seu génio é comparável ao de Virgílio, Dante, Cervantes ou Shakespeare. Das suas obras, a epopéia Os Lusíadas é a mais significativa.

Até ao 25 de Abril de 1974, o 10 de Junho era conhecido como o Dia de Camões, de Portugal e da Raça. Oliveira Salazar, na inauguração do Estádio Nacional em 1944, tinha denominado também o dia 10 de Junho como o Dia da Raça em memória das vítimas da guerra colonial. A partir de 1963, o feriado do 10 de Junho assumiu-se como uma homenagem às Forças Armadas e numa exaltação da guerra e do poder colonial. A segunda republica não se revê neste feriado, pelo que, em 1977, o Governo Democrático Português decretou que o “Dia 10 de Junho”, devia ser uma trindade.
“Dia de Portugal”, “Dia de Camões” e “Dia das Comunidades Portuguesas Espalhadas pelo Mundo”.

Os emigrantes aceitam de bom grado o Dia de Camões como “Dia do Emigrante Português”, pois O POETA também foi emigrante durante dezassete anos.

Termino com a letra do CANTO I da epopeia "Os Lusíadas", obra mais significativa de Luis Vaz de Camões, que de há muitos anos a esta parte é cantada em todas as actuações do Orfeão Universitário do Porto e da Associação dos Antigos Orfeonistas da Universidade do Porto, com a desiganção : "A PROPOSIÇÃO DOS LUSÍADAS"


CANTO I

As armas e os Barões assinalados
Que da Ocidental praia Lusitana
Por mares nunca de antes navegados
Passaram ainda além da Taprobana,
Em perigos e guerras esforçados
Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram
Novo Reino, que tanto sublimaram;
E também as memórias gloriosas
Daqueles Reis que foram dilatando
A Fé, o Império, e as terras viciosas
De África e de Ásia andaram devastando,
E aqueles que por obras valerosas
Se vão da lei da Morte libertando,
Cantando espalharei por toda parte,
Se a tanto me ajudar o engenho e arte.
Cessem do sábio Grego e do Troiano
As navegações grandes que fizeram;
Cale-se de Alexandro e de Trajano
A fama das vitórias que tiveram;
Que eu canto o peito ilustre Lusitano,
A quem Neptuno e Marte obedeceram.
Cesse tudo o que a Musa antiga canta,
Que outro valor mais alto se alevanta.
Com esta letra, evoco e venero este Grande Poeta Português e ainda o Orfeão Universitário do Porto e a Associação dos Antigos Orfeonistas da Universidade do Porto, que há muito, muitos anos, faz dela a sua eterna canção.

Aonde quer que seja cantada, desde que pelo OUP, ou pela AAOUP, vão ao palco fazer parte do coro, todos os antigos Orfeonistas da Universidade do Porto, presentes na sala ou no recinto em causa, quer pertençam ou não à Associação.

Bem-Haja Luis de Camões!

O Meu respeito a todos os EMIGRANTES espalhados pelo mundo!

Um grande aplauso ao OUP e à AAOUP.





Uma Homenagem da Licas

quarta-feira, 4 de junho de 2008

NÃO RESISTO À TENTAÇÃO!


A Solange aconselhou-me a ler no blogue "lersempre" um poema da Dinamene sobre as crinaças.

Não resisto à tentação de o postar aqui, não apenas como homenagem às crianças, mas como um viva à Dinamene pela sua sensibilidade e interioridade.
Bem-Haja!

Choro e Sonho, Menino

Menino Rasgado,
Nu, Esfarrapado!
Na Rua
Vivendo, sem Tecto/Telhado!
Na Rua, Na Rua…
Menino Coitado!

Menino Esquecido
Com Suor Escorrido
Trabalha
Horas Sem Sentido,
Trabalha, Trabalha…
Menino Vivido!

Menino Desgraçado
Marchando Fardado
Na Guerra
Matando, Irmão-Odiado
Na Guerra, Na Guerra…
Menino Soldado!

Menino Vestido
Em Belo Tecido
Em Casa
Guardado/Aquecido!
Em Casa, Em Casa…
Menino Protegido!

Menino (Des)Amado 0u Mal Amado?
Na Sala Fechado
Sozinho
Olhando a TV Deitado!
Sozinho, Sozinho…
Menino Ensonado!

Onde estão teus direitos Menino?
Não é hoje o Teu Dia?
Por ti choro Menino!

E Choraria se um Menino houvesse na Rua, sem casa, conforto, comida, carinho
E há muitos!

Choraria se um Menino houvesse no Trabalho, sem brincar, sem sonhar, em suor a se desgastar
E há muitos!

Choraria se um Menino houvesse na Guerra, a lutar, a matar, a morrer devagar
E há muitos!

Choraria se um Menino houvesse Em Casa, sem sair, sem amigos, com medo do frio, dos desconhecidos
E há muitos!

Choraria se um Menino houvesse Sozinho, sem colo, sem companhia, a ver TV noite e dia
E há muitos!

Onde estão vossos direitos Meninos?
Não é hoje o Vosso Dia?
Por vós choro Meninos!

Também por vós Sonho!
Porque vejo em vossos olhos, mesmo na Tristeza, o brilho da Esperança….
Sonho com vosso Sorriso de Criança!

Por vós Choro e Sonho,
Meninos esfomeados, maltratados, abandonados, raptados, explorados, encarcerados…


Dinamene - "lersempre.blospot.com"

terça-feira, 3 de junho de 2008

O ZECA ...



Este boneco chama-se Zeca e tem uma história.
Há 67 anos, nasceu uma criança do sexo masculino loirinha, de olhos verdes, a quem chamaram José. Como prenda a madrinha deu-lhe este boneco de celulóide - o último grito da moda na altura -.
O Zeca, assim foi baptizado, viveu muito perto da criança e no seio da família.
Quem o adorava era a madrinha, senhora solteira, com uma enorme empatia com as crianças.
Um dia a madrinha começou a envelhecer e o Zeca a ser a sua companhia preferida. Já estava mesmo muito velhinha, mas toda ela sorria, quando o José e a mulher, vestiam o Zeca de acordo com a estação do ano.
Tinha um fatinho de malha azul e um fatinho de piquê branco com florinhas.

E assim se passaram os anos.
A madrinha há três anos partiu. Deixou a família, os amigos e também o seu Zeca.

Ele voltou para o José.
O José teve um neto - o João - que aos 3 anos foi para o infantário.
A avó para perpetuar esta data e a tradição da presença do Zeca na vida da família, vestiu-o com esta roupa que é uma réplica do uniforme do infantário do João.

O Zeca tem agora 67 anos, mas mantém o seu cabelo louro e os seus olhos verdes e doces Parece mesmo que os anos não passaram por ele.

É bom abrir-se por vezes o Baú das Recordações!

segunda-feira, 2 de junho de 2008

E HOJE AINDA PARA TI CRIANÇA



Hoje, as crianças continuam a ser crianças!
O céu voltou a brilhar!
Mas com ele a azáfama de segunda feira.

Olha para ontem minha criança linda...
Para o teu dia.

Porquê para ontem?
Porque só ontem, riste, cantaste, brincaste, fizeste um bolo, foste ao parque, conviveste com os avós?

Porque ontem era DIA DA CRIANÇA
E todos tiveram tempo!
E todos fizeram a festa na rua!
E todos esqueceram as canseiras e as tristezas.

Mas ... Hoje continuas a ser criança!
O Sol continua a brilhar!
Contudo os adultos, numa correria desenfreada, já entraram noutra realidade.

Talvez os teus pais tragam à noite mais uns euros no bolso.
Talvez até te possam comprar o brinquedo que tu queres.
Mas, é mesmo isso que tu queres?
Ou satisfazia-te um sorriso, um rosto aberto, uns braços disponíveis?

Vês como é o Mundo?

Deixo-te um conselho:
Vive e não deixes nunca fugir a criança que há em ti,
Brinca, ri, chora, pula, sofre e vive com o mundo.

Todos os dias são o teu dia!

Beijinhos da Licas