quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

AS MINHAS MENTIRITAS SÃO ... E UM NOVO DESAFIO

Com que então ainda ninguém me conhece suficientemente bem ...
Poucos acreditam que tenho dotes artísticos ...
Mas quase todas me vêm com uma roda de automóvel . pequena, morena e pesada????
Pois é!

1 - Sou alta, muito loira e magrinha - MENTIRA!
Quase todos acertaram. Porquê? Dá assim tanto nas vistas que sou desajeitada??????

2 - Gosto muito de Inglês e Russo
Realmente não gosto nada de Inglês, Russo, Francês, Italiano ....
Sou uma completa negação para línguas ...Nem a gestual.
Sabem porquê? Por ser muito tímida por uma lado e perfeccionista por outro. Não consigo falar, porque tenho um medo horrível de errar.
E como burra velha não toma andadura .... Ficarei sem falar línguas (embora leia e compreenda bastante bem).

4 - Tenho um bisavô preto
Não tenho é verdade, mas podia ter, porque há genes que podem aparecer até à 7ª geração.
Mas realmente sou loirinha de olhos azuis e as gerações passadas também o eram.

Ditas as verdades, resta-me agradecer a quem procurou pelo menos aceder ao desafio e espero que me fiquem a conhecer um pouco melhor.


NOVO DESAFIO

Para todos os que queiram brincar um pouco.

EM QUE DIA NASCI?

Posso dizer que
1 - foi um dia memorável historicamente,sobretudo para Paris e para o povo Romeno
2 - lá longe ninguém morreu mais de asfixia com gás
3 - é uma data muio escolhida, sobretudo no ME, para publicar decretos e despachos
4 - nunca gostei muito do dia dos meus anos, porque raramente encontrava amigos para festejar
5 - a soma se todos os algarismos que compoem a data (dis,mês e ano)é igual ao número que antigamente os médicos mandavam o doente dizer, enquanto o auscultava, menos 2.
6 - É um mês em que apenas se assinalam 2 Efemérides. Não há nenhum outro mês assim.

Vá lá ... tentem!

A pessoa que acertar ou mais se aproximar da data em causa, receberá em casa um objecto feito por mim.
Em caso de empate, contará a data e hora da entrada da resposta.

DATA LIMITE PARA O JOGO: 2 de Março de 2009
Um abraço

Licas

SELO MULHERES RESOLVIDAS



Este selo agradeço-o à Isabel do "Artista Maldito". Fiquei contente porque pelo menos concluí que já me conhece bastante bem.
Este selo tem as características do demais. Deve ser passado para que mais pessoas sintam o cheitrinho dos sfectos.
Assim passo-o a todas as MULHERES, portuguesas ou não que sejam "Verdadeiras Mulheres Resolvidas"

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

9ª HISTÓRIA

Apenas em Abril – 18 -04 -79 (xhiiii ...iii, Já lá vão quase 35 anos !!!) fui colocada na Escola Secundária ... com horário
incompleto.
Iria seleccionar uma turma do 9ºJ - 4 horas de Matemática, 3 de Biologia e 3 de D.T. e outra turma do 8ºI apenas 4 h de Matemática. (Total de 14 horas)
No primeiro dia de aulas, cheguei à Sala de Professores e fui recebida por um grupo de colegas que estava no intervalo.
Perguntaram-me que turmas iria leccionar. Quando falei no 9ºJ senti uma troca de olhares, que confesso, me gelou.

Uma das colegas acabou por falar.

Olhe colega, disse ela. Eu até estou com pena de si, porque vai ter as piores turmas da escola e vem substituir uma colega que não aguentou a pressão dos alunos. Eles são desinteressados, malcriados, irreverentes, péssimos alunos e alguns até muito maus.
Perante semelhante descrição … quase me apeteceu pegar na pasta e dar meia volta.
Porém tocou!
Uma das colegas, simpaticamente disse que ia acompanhar-me até à porta, para que me sentisse mais à vontade.
Nessa altura eram os funcionários que abriam as portas das salas de aula e nos entregavam os livros de ponto.
Tínhamos por isso que esperar nos corredores juntamente com os alunos.

Estava eu a conversar com a colega que me acompanhou e que daria aula na sala pegada à minha, quando de repente sinto uma dor imensa numa perna. Algo me foi atirado com muita força.
Fez-se um enorme silêncio e os olhares convergiram para mim.

Em segundos pensei no que fazer e . . . a funcionária abriu a porta, sem que eu tivesse dito palavra.
Entrei, pousei a pasta, pus a minha cara “doutoral” e pedi-lhes o favor de se sentarem.

Comecei por dizer-lhes que era hábito meu, fazer o juízo dos meus alunos por mim própria e que me recusava a ouvir opinião de terceiros.
A partir dali eles seriam algo de novo com que eu iria habituar-me a conviver e que esperava deles a melhor compreensão, porque eu estava com vontade de trabalhar e de os ajudar ao máximo.

Perguntei-lhes se tinham alguma pergunta a fazer-me, disse-lhes o nome, o meu tempo de serviço e que estava à disposição de todos para o que necessitassem.
Isto passou-se numa boa parte da aula e contrariamente ao que me disseram os colegas, os alunos mantiveram-se numa atitude impecável.

Pedi-lhes que abrissem os cadernos.
- Não temos cadernos, replicaram.
Eu respondi-lhes:
É vosso costume dormirem sem lençóis na cama?
Lavam-se sem água?

Houve sorrisos e alguma inquietação.

Eu pus o semblante mais tenso que podia e afirmei:
- Hoje tudo bem, porque não sabiam que eu vinha, mas é um dado adquirido que na minha sala não entra ninguém sem o caderno diário e 1 lápis pelo menos.
- Estamos entendidos?
- Não me pagam para andar a brincar e nenhum de vocês, suponho eu, vem para a escola para roubar os pais, gastando o dinheiro deles sem proveito.
- Como não temos condições para continuar a aula, podem arrumar o que têm em cima das mesas de trabalho e mantêm-se em silêncio até tocar.

Acabei de falar.

Arrumaram o material e lá do fundo vejo um braço levantar-se.
Perguntei se queria alguma coisa.
O aluno disse:
- Quando estávamos para entrar, não sentiu nada na perna?
Porquê? Perguntei eu
- Achas que eu sou feita de quê?
- Se eu atirasse a algum de vocês aquilo que veio ter à minha perna, não vos doía? --- Vocês gostavam?
- Que pensavam?
- Pois eu vou dizer-vos que senti, fiquei triste, mas preferi ignorar e pensar que foi por acaso que o objecto veio ter comigo e não que um jovem atrevido e mal educado mo tinha atirado.
- Como vos disse há pouco, são vocês que a partir de hoje me vão dizer e mostrar quem são e o que valem. Perceberam?
- E agora podem sair porque já tocou.
À saída, o aluno do fundo veio pedir-me desculpa porque foi ele que me atirou uma bota daquelas texanas muito pesadas.
Dizia ele :
- Já toda a gente pensa mal de nós. Já não conseguimos que nos vejam com outros olhos e por isso continuamos a portar-nos assim.

Pedi-lhes que reflectissem no que lhes disse e que actuassem de acordo com isso.
NUNCA TIVE PROBLEMAS COM ESTA TURMA!
Muito pelo contrário! Ainda hoje vejo alguns dos alunos, que me sorriem com carinho. Com as colegas criei uma empatia forte e recebi delas um grande voto de confiança e muito respeito.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

A TERESA DO EMATEJOCA MANDOU UM DESAFIO - 6 VERDADES 3 MENTIRAS


«Você diz 9 coisas aleatórias a seu respeito, não importando a relevância. Tendo de ter 6 verdades e 3 mentiras. Quem receber o Meme, deverá postar as 3 coisas que acha serem as mentiras do blogueiro que lhe passou o Meme».

AS MINHAS NOVE ESCOLHAS SÃO:
1 - Sou alta, muito loira e magrinha
2 - Gosto muito de Inglês e Russo
3 - Tive um papagaio que dizia: oH Mina olha a patroa"
4 - O meu bisavô era preto
5 - Um dia, quando pequena fugi para o cimo de uma árvore e depois não consegui descer.
6 - Toquei num concerto de piano.
7 - Gosto muito de uvas verdes
8 - Fui "mulherzinha" aos 9 anos
9 - Não conheço os Açores

As mentiras da Teresa são (no meu entender):

1 - Há 4 anos assaltei a Rathaus - Camara Municipal de Düsseldorf
2 - Escrevi uma carta rídicula ao Baptista-Bastos
3 - Conheci o Claude Chabrol na Berlinale de 1999

Desafio agora as seguintes amigas a descobrirem as minhas 3 mentiritas

http://cadernoapontamentos.blogspot.com/
http://revisitaraeducacao.blogspot.com/
http://socorromeireles.blogspot.com/
http://bloguelisa.blogspot.com/
http://bc-beblogspotcom.blogspot.com/
http://agulhasetintas.blogspot.com/
http://olhaioliriodocampo.blogspot.com/
http://imonteverde.blogspot.com/
http://solportodeabrigo.blogspot.com/
http://pequenoquiproquo.blogspot.com/
http://rasgosdeumavida.blogspot.com/

Vá lá divirtam-se e divirtam-me
Boa Noite
Licas

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

8ª HISTÓRIA

Olá Amigas

Depois de um fim de semana cheio de sol e AMOR, vou reencontrar-me com o meu Baú de Recordações, para vos contar mais uma história.

Desta vez é triste!

Mas, a vida faz-se exactamente de diferenças e de dias de sol e de chuva.

Com o devido respeito, dedico este momento à minha colega Drª Flora (nome fictício)

Era uma pessoa muito mais velha que eu, talvez muito próximo da aposentação.
No início do Ano 74/75 atribuíram-lhe uma Direcção de Turma, apesar da Senhora manifestar que já não se sentia com coragem para desempenhar tal função.

Um dia, meados de Abril, a colega teve necessidade de chamar à escola os Encarregados de Educação de uma aluna que estava a dar muitos problemas.
Além de faltar às aulas era extramamente mal educada para com os colegas, professores e funcionários.

A Drª Flora enviou, como era costume, uma carta para casa da aluna
À hora aprazada lá estava a família (3 ou 4 pessoas).
Pediram para serem atendidos dentro de uma sala de aula, para que terceiros não ouvissem a conversa.

A professora acedeu!

Passado um bocado a funcionária de serviço naquele pavilhão veio pedir ajuda, porque se ouviam muitos gritos dentro da sala e temia pela segurança da professora.
Quando foram socorrer, já a minha colega estava desmaiada, com um grande hematoma na cabeça.

O que se passou resume-se em duas linhas:

A professora tinha-se enganado ao endereçar a carta. Os E.Educação presentes eram de outra aluna, que não tinha mau comportamento, apesar de pertencer a uma família complicada e conflituosa.
Quando confrontada com o erro, a Drª Flora procurou de imediato pedir desculpa do sucedido, dizendo que tinha sido o cansaço e a sua idade a provocar o engano.

Os pais não aceitaram as desculpas e resolveram dar uma tareia imensa à professora.

Aliás eles já iam preparados para isso, porque ao confrontarem em casa a filha Liliana, com a carta que receberam da escola, ela tinha afirmado que havia um engano. Aquela carta seria para os pais da Madalena, essa sim uma aluna complicada.

A professora foi para o hospital e depois jamais regressou à escola.

Sei que quando chegamos em Outubro para recomeçar o ano 75/76, fomos informadas de que a nossa colega tinha falecido nas férias com um tumor cerebral.

Certamente, pensamos nós, que a atitude dos pais não teria sido a causa imediata para o aparecimento do tumor, mas foi de certeza o meio mais fácil para o seu desenvolvimento e posterior desfecho.

Isto passou-se há 33 anos!

Hoje os professores continuam a sr maltratados e humilhados.

Será Justo?

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

6ª e 7ª HISTÓRIAS


Olá Amigas

Desta vez vou contar-vos, duas histórias alegres, da escola a que me tenho reportado.

História 6
No final do Ano Lectivo, como geralmente acontecia, uma turma do 9º ano com alunos já espigadotes, realizaram uma pequenina festa de despedida dentro da sua própria sala.
Foram convidados, além da DT os outros professores e o convívio desenrolou-se segundo a imaginação da própria turma.
Como sempre e como regra, foi completamente proibido o uso de bebidas alcoólicas no lanche e os alunos não podiam permanecer na sala sem um adulto por perto.
Todos sabemos contudo que os jovens são capazes das maiores artimanhas para conseguirem os seus intentos.
Nessa turma efectivamente entrou álcool disfarçado em garrafas de refrigerantes.
Os professores não se aperceberam e no final uma das alunas estava com uma bebedeira de todo o tamanho. Não estava, nem nada que se parecesse em coma alcoólico, muito pelo contrário manifestava uma euforia e alegria anormal, que punha toda a turma perfeitamente incontrolável.

Tinham, recordo-me bem, começado a usar-se as socas abertas para as raparigas.
A MIÚDA TINHA UMAS CALÇADAS. ERAM AZUIS ESCURAS COM PINTAS VERMELHAS.

Como nada mais conseguíamos fazer dela, telefonamos para casa a informar o estado da aluna.
Disseram-nos que não tinham disponibilidade para vir buscá-la, mas que chamássemos um taxi, déssemos a direcção ao motorista e que lá ficariam atentos à sua chagada.
Nenhum professor quis assumir a responsabilidade de transportar a aluna nestas condições, no seu próprio carro.
Chamamos o táxi e pretendemos introduzir a aluna lá dentro.
Primeiro metemo-la por um lado, saiu de imediato por outro
Depois trancou-se uma das portas, tentámos de novo metê-la dentro, mas de imediato, salta para o banco da frente e retira a chave da ignição e foge.
A nossa sorte foi que ao fugir, largou uma das socas azuis dentro do carro.
Começou então a gritar e a rir-se desenfreadamente pedindo a soca.
Dissemos que tal só aconteceria quando devolvesse a chave do carro.
Continuando a rir, concluiu dizendo:
- Não querem dar-me a soca não dêem! É a maneira de eu levar apenas com uma na cabeça, quando o meu Pai souber que eu apanhei uma piela.

O resto da história …
……..
Já não tem nada de novo.
A aluna acabou por ir no táxi acompanhada por um funcionário que a entregou aos pais.

Mas a cena à porta da Escola era digna de um filme cómico.
O ano 76/77 terminou…

História 7
No ano seguinte continuei a fazer parte do Conselho Directivo, como Coordenadora dos Cursos Nocturnos.

ADORAVA ESTES CURSOS!

Os alunos eram muito heterogéneos. Havia desde empregadas domésticas, trolhas, costureiras, empregadas comerciais e até uma ou duas vezes tive prostitutas.
Portavam-se de um modo geral muito bem nas aulas, entusiasmavam-se com o conteúdo das disciplinas enquanto o cansaço os não consumia, não preparavam as aulas em casa, mas com paciência e uma certa lentidão, a matéria ia sendo dada.

Fazia então parte do corpo docente, um Professor de Matemática, muito competente novo, simpático, muito muito bonito, delicado, de uma grande família do Porto, que fez desencadear nas alunas uma onda de paixonetas (lembremo-nos que eram alunas da noite, já com os seu 18, 19 e até 20 e tal anos).
O professor foi avisado deste facto pelo que se mantinha simpático, calmo, respeitador, compreensivo com o estatuto pesado de trabalhador estudante, mas 100% profissional, mantendo com os alunos as devidas distâncias.

Uma noite estava eu no meu gabinete de trabalho e comecei a ouvir gritos histéricos no polivalente. Pensei ainda que fosse uma explosão de alegria e descontracção, própria de um recreio no final de um dia de trabalho .
Fui-me aproximando ...
De repente fui surpreendida com uma enorme bulha entre duas alunas por causa do dito professor.
Quando tive acesso ao grupo e soube o motivo, deu-me uma das maiores vontades de rir de sempre: Uma das alunas tinha tirado uma molhada de cabelo à outra porque o Senhor Professor lhe tinha dado no teste menos 0,5 valores.
Apesar do inédito da questão lá consegui trazê-las para o gabinete, disse-lhes o que entendi, mas jamais se falaram entre si, nem tão pouco com o professor.

A próxima história será a última das que seleccionei desta minha 1ª escola.
É triste!
Razão porque intercalei estas duas mais joviais e divertidas.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

IMAGEM DO CABEÇALHO

A imagem do cabeçalho do blog, é o quadro que pintei durante o mês de Janeiro para oferecer hoje ao meu filho, com a seguinte inscrição:

Vida!
Sucessão de ciclos concêntricos
Cada vez menos coloridos
Cada vez com menor amplitude
Mas que se interceptam
Por raios de afectos
Cada vez mais fortes
Cada vez mais iluminados .

Para ti, meu filho no teu 38º aniversário
9 de Fevereiro de 2009

domingo, 8 de fevereiro de 2009

O SELO DA MAMÃ FELIZ


Pois é, Caras Amigas

Esta é para mim uma semana muito especial.
Amanhã, 2ª feira, 9 de Fevereiro às 8h15min, celebro o 38º aniversário do momento que fez de mim uma mulher muito, muito feliz.
Nasceu o meu filho, o meu primeiro e por vontade de Deus, o meu único filho.
Por isso dedico este selo a todas as mães, especialmente àquelas que tenham filhos a fazerem anos neste mês de Fevereiro.
Aceitem-no com simpatia e muita ternura de uma mãe SUPER BABADA E FELIZ e passem-no sem limites.

Parabéns para todos!

sábado, 7 de fevereiro de 2009

5ª HISTÓRIA

Até que um dia ...
Assim acabei a história anterior


Até que um dia...
Dirigia-me à sala dos professores, quando fui abordada um tanto violentamente por uma aluna que me perguntou:
- Professora, que fazia ao seu pai, se ele no dia dos seus 17 anos não a deixasse ir ao cinema com os amigos ?
_ Talvez, respondi-lhe, procurasse saber as razões que o levam a não permitir uma saída dessas e depois quem sabe, negociasse com ele outra hipótese que fosse agradável para ti (presumo que és tu que fazes 17 anos ) e na qual ele também não visse inconveniente.
A rapariga ficou como que eléctrica e disse: “É por essas e por outras que a minha mãe e a irmã se suicidaram”.
Fiquei apavorada! Pedi-lhe que esperasse um pouco enquanto pousava os meus livros na sala dos professores para depois podermos continuar a conversa.
Quando entrei na sala, vem uma colega ter comigo e pergunta-me se a aluna com que eu estava a falar no corredor me tinha pedido algum tipo de ajuda.
Contei-lhe por alto o sucedido e a minha colega disse-me que não demorasse a ir ter com a aluna, porque no ano anterior uma irmã tinha também solicitado ajuda a uma colega nossa. A professora que entendeu não ser essa a altura propícia para o fazer disse-lhe:
- Hoje tem paciência, mas tenho mais em que pensar. Estou muito cansada!
A aluna não respondeu, meteu-se no eléctrico até ao Castelo do Queijo e foi suicidar-se num rochedos próximos do mar.
Imaginam o que senti ? Corri o mais depressa que pude e lá estava a Mariana à espera da minha resposta.
Que dizer-lhe ? Como iria reagir ? Lembrei-me de lhe perguntar:
- Em vez de ires ao cinema por acaso não te apetece ires jantar fora com alguns amigos?.
- Se o teu Pai permitir e se tu entenderes, nem me importo de vos acompanhar.
- Acha Senhª Drª que aquele homem (o pai) vai consentir numa coisa dessas ?
- Porque não experimentas ? Sugeri.
Continuava revoltada e não se atrevia a telefonar-lhe.
Tive que ser eu mesmo a fazê-lo. Disse-lhe que alguns alunos gostariam de a acompanhar naquele dia e que eu e o meu marido iriamos com eles.
Pedi-lhe ainda que no dia seguinte viesse falar comigo porque gostaria de ponderar uns asuntos.
Lá fomos ao cinema , depois trouxemo-los até nossa casa ouvir um pouco de música e só mais tarde a levamos a casa.
Julgamos … “Uma vez não são vezes...”
Julgamos mal.
No dia seguinte o Pai estava em nossa casa, tal como tinha sido combinado, para nos contar o seu desalento e sobretudo o trágico suicídio da mãe e da irmã da Mariana. O primeiro, nada levava a crer que acontecesse, ocorreu mesmo na véspera da partida de toda a família para férias.
Após arranjarem as malas, a mãe disse aos filhos que ouvissem o que quer que fosse, não entrassem no seu quarto
As crianças ouviram realmente um estrondo, mas ficaram à espera do pai para que com ele verificassem o que se tinha passado dentro desse quarto.
Não preciso sequer de descrever a cena e as imagens que teriam ficado naqueles jovens.
Depois … Um ano depois foi a irmã mais velha, como já acima referi.
O Pai vivia apavorado porque tinha a certeza que aconteceria o mesmo com esta e quem sabe com os outros três mais novos.
Os filhos, segundo ele, pretendiam “castigá-lo” pela morte da mãe (era a versão que a família da mãe, que vivia em Coimbra lhes incutia).

A história que eu e meu marido ouvimos na nossa sala de estar foi tão dramática que eram 3h da manhã estava o meu marido com uma gravíssima enxaqueca, refugiando-se na casa de banho a vomitar. Eu, para não ser indelicada apenas transpirava desmesuradamente e procurava ouvir o senhor que ora chorava ora ria, mas que abandonou a nossa casa às 6h da manhã.
Prometi cuidar o melhor possível da filha e o Senhor disse-me que faríamos então o seguinte: - Logo que ela saia de casa eu telefono e a Senhora professora espera-a à porta da escola e leva-a para a sala. Nos intervalos ou a deixa ficar fechada numa sala ou permite-lhe que a acompanhe.
À saída fazemos precisamente o inverso até arranjarmos outra solução.
Acho que foram os piores dias da minha vida. Deixei quase de ter vida própria. Tive a sorte de ter o meu marido a apoiar-me.
Eram noites e fins de semana a passear com a menina e a tentar “fazer-lhe a cabeça”.
Acompanhei-a a um Psicólogo. Ajudei-a a interpretar os seus conselhos.
Vivemos esta angústia talvez durante dois meses.
Um dia estávamos a jantar. Toca o telefone. Era o pai a dizer que ela não chegou a casa e que lhe tinham dito que a viram passear junto ao Castelo do Queijo.
Lá fomos nós – Circunvalação abaixo – voando.
Quando chegamos ao Castelo do Queijo começamos a andar com o carro o mais lentamente possível, olhando para todos os lados, apontando os faróis bem acesos em todas as direcções e Mariana nada. Reparamos isso sim que se passeavam muitas prostitutas por ali e a certa altura também … um carro da polícia.
Pouco depois avistámos a Mariana junto ao castelo!
Estacionamos e fomos no encontro dela chamando-a. Nós muito aflitos nem demos pela chegada da brigada policial que nos pedia a identificação.
Foi complicado! Com a pressa de sairmos, tinha-me esquecido dos documentos. Os guardas não acreditavam na nossa história e não fosse um pouco de bom senso que aflorou à cabeça da Mariana, hoje já poderíamos contar o que é passar um noite atrás das grades. ( A polícia julgou que andávamos a apoiar a prostituição)
A Mariana veio ao nosso encontro. Disse ao agente que apenas se tinha aborrecido com o Pai e que tinha vindo até ali para arrefecer a cabeça. Disse ainda em que escola andava e que eu era a Directora de Turma.
Trouxemo-la para casa. Alimentamo-la e depois chamámos o pai para vir buscá-la. Como não fosse possível, decidimos que ela ficaria connosco nessa noite.
Acham que dormi ?
Coloquei um cobertor no chão junto do quarto dela e deitei-me ali porque temia que fugisse de novo.
De manhã quando o pai chegou, dissemos-lhe que não tínhamos disponiilidade para tão grande responsabilidade e que a partir desse momento entendíamos que o seu lugar seria efectivamente em Coimbra em casa da avó materna ( que era afinal quem a desorientava em relação ao pai ), para onde ela queria ir, ou então que teria que ser o Pai a assumir as consequências.
Esteve um tempo sem aparecer!
Temi o pior, mas mantive-me, porque tive receio que a minha preocupação exagerada fosse estragar algo que em família estivesse a ser resolvido.
Assim foi!
O Pai desesperado levou a Mariana a Coimbra e deixou-a por completo à responsabilidade da família materna.
Um ano depois vi-a a jantar muito bem disposta com o Pai na Cufra - Porto, o que poderia então querer dizer uma de duas coisas: ou que regressou à casa paterna depois de se ter convencido que a história menos verdadeira era a Coimbrã, ou que conseguiu apesar de habitar em Coimbra, viver mais em Paz e aceitar as duas famílias.
O suicídio seria contudo congénito, porque soube mais tarde que um irmão que se encontrava num colégio do Porto, se suicidou com um lençol da cama aos 16 anos.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

4ª HISTÓRIA

Ainda estou na mesma escola ...

No Ano de 1975/76 fui convidada e aceitei ficar a pertencer ao Conselho Directivo da mesma escola. Éramos 5 elementos (1 Homem – Professor de Educação Visual – (Retornado ) e 4 Senhoras : 2 dos 4º grupo A e B, uma de Inglês e uma de Economia.
De gestão sabíamos todas muito pouco, mas talvez pela nossa ignorância fomos as únicas que assumimos o compromisso com garra total e inigualável.
De início … Tudo bem.
Fizemos as turmas;
Encontrão aqui, encontrão ali, elaboramos os horários,
Pusemos de pé o Ano Lectivo 75/76
( tal era a confusão exterior à Escola que o nosso trabalho parecia obra de magia ).

Tudo começou e corria, - para a época … razoavelmente bem
Chegou o final de Outubro ! Mas e o ordenados ? Há que pagar os ordenados. Fazer listas de vencimentos, preencher cheques …. IH ! Como vai ser isto ?
Aí, entramos mesmo em pânico!
Alguém imagina o que seria em plena época pós revolucionária, não se pagarem os ordenados a tempo ?
Nada mais há a fazer…
Chamaram-se os dois maridos economistas, mais a colega igualmente economista do Conselho Directivo e assim todos juntos passamos três noites e um fim de semana a trabalhar.
Faltou dizer que a secretaria tinha apenas a chefe, que um pouco como nós estava a “aprender” a viver numa nova era.
Éramos realmente todos muito novos, cheios de energia e vontade de mostrar bom trabalho. Tínhamos que marcar posição, perante as colegas, funcionários e nós próprias.
Conseguimos! Na véspera tudo ficou feito!
Meteram-se os cheques no cofre, todos conferidos e assinados e o Presidente fecha a porta e guarda a chave.

DIA SEGUINTE …
O Presidente é chamado a Lisboa de urgência para apoiar uma filha que chegara de África. Telefonou às 7h da manhã a avisar!
- Que sim senhor, vai descansado ! Está tudo bem ! Nós damos conta do recado.
Pois é ! Chegou a hora de abrir o cofre … E a chave ?
Ai … Está com o António algures perto ou mesmo já em Lisboa.
O pânico regressou. Uma das colegas que era doente, sobretudo muito ansiosa desmaia mesmo à porta do cofre, o que nos deixa a todos ainda mais confusos.
Que fazer? Era o último dia de pagamentos e mais ainda 5ª feira.
Tentamos “enrolar” o melhor possível os colegas alegando atrasos na autorização dos pagamentos, mas …
-Hoje sem falta vocês receberão os vossos cheques. Só pedimos que venham mais perto das 17h. – Dizíamos a todos, com o mais “aberto e seguro” dos sorrisos.
Enquanto isso um dos nossos maridos mete-se no carro e vai encontrar-se com o António, numa determinada estação de Lisboa e regressa de seguida, para que a nossa palavra fosse cumprida.
Que susto!
Mas foi assim que se formou uma equipa tão coesa, tão amiga e eficiente que parecia estarmos já a desempenhar estas funções há séculos.
Entre os elementos do Conselho Directivo criou-se uma empatia e uma cumplicidade que se estendeu às famílias directas proporcionando momentos de lazer fora do comum, muito pouco vulgares (repito isto sem dúvida 33 anos depois) dentro da classe docente.
Trocavam-se experiências profissionais, todos se ajudavam a todos os níveis e não existia qualquer divisão de classes sócio-económicas.
Uma das famílias por exemplo, estava a passar um mau momento económico. Apesar disso estava sempre presente nos nossos convívios, tinha a casa com o conforto possível porque todos nos empenhamos em proporcionar-lhe isso mesmo.
A senhora pela nossa mão e sem que a restante comunidade escolar sequer desconfiasse, começou a trabalhar para fora confeccionando salgados e bolos e ainda fazia arranjos de costura.
Os filhos … e eram muitos, continuaram os estudos, tinham as suas festinhas de aniversário e participavam em todas as outras.
Revigorou, ganhou de novo confiança, tornou-se uma família segura e feliz.
Convivemos durante bastante tempo, mas depois por uma razão ou outra fomo-nos separando fisicamente. A última notícia que tive foi do Algarve a comunicar a morte prematura do António com um cancro e a ascensão dos filhos na vida.
As aulas decorriam com bastante normalidade, mas um dia …



Será a 5ª História ... Até já!

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

PRÉMIO INFONAUTAS


“Amigos Infonautas” é um “mimo” que ne foi atribuído pelo "Revisitar a Educação" a quem peço desculpa por ter colocado erradamente o nome “Porto de Abrigo”).Esta menção destina-se a amigos bloguistas que se têm distinguido na blogosfera, pela fecundidade da sua escrita como canais de formação e informação em várias áreas do conhecimento: Literatura, Arte, Poesia, Música, Pintura, Saúde, TIC e Educação em Geral.

Nesta 1ª nomeação irei distinguir apenas 6 blogues de “amigos infonautas”. Porquê seis? Apenas porque julgo que nomeando muitos e atendendo ao elevado número de nomeações, começaremos a sobrecarregar demasiado os blogs amigos. Esta é a minha perspectiva, mas não quero com isto desmerecer de nenhum daqueles com quem costumo conviver.Muito em breve outros nomearei. Vou evitar repetir nomes de pessoas a quem já foi atribuído este prémio, embora os reconheça merecedores dele.

Por ordem alfabética, nomeio:

Carla - http://universosquestionaveis.blogspot.com/
Daniela - http://solportodeabrigo.blogspot.com/
Isabel Monteverde - http://imonteverde.blogspot.com/
Liliana - http://olhaioliriodocampo.blogspot.com/
Luna - http://multiolhares-poetadaspiramides.blogspot.com/
Sónia - http://paginas-com-sentimentos.blogspot.com/

Nota: Este mimo é pessoal, mas transmissível. Se algum dos “amigos infonautas” assim o entender, poderá oferecê-lo. Não há regras. Acredito no bom senso dos meus amigos.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

TROFÉU PEDAGOGIA DO AFECTO


Este troféu "Pedagogia do Afecto" é uma distinção atribuída a bloguistas que tenham compromissos na área da Educação e que nela se empenham com dedicação e afecto.


A colega Fátima André, com a sua conhecida dedicação e ternura, decidiu oferecer-me com este prémio.
Muito obrigada Fatinha. Vou procurar continuar a honrá-lo.


Dando continuidade a mais esta corrente vou tentar seguir a norma, que é a seguinte:
1. Recebendo o troféu, ele deve ser oferecido a 10 blogues que tenham compromisso e afecto com a Educação;
2. A imagem do selo deve passar a ser exibida permanentemente no blogue;
3. O nomeado deve colocar um link para o blogue de onde a nomeação foi atribuída;
4. Nos blogs seleccionados, deve ser deixado um comentário, permitindo assim que eles saibam que foram presenteados e quem os presenteou;
5. O blogue que receber 5 vezes o troféu "Pedagogia do Afecto" deve ir à página deixar um comentário com o e-mail, para receber uma nova homenagem.


Mesmo sabendo que vou (re)nomear alguns blogues que já receberam o supramencionado troféu, é uma honra poder nomeá-los pelo empenho, dedicação, afecto e "paixão" pela educação. Sem qualquer ordem, aqui ficam as minhas nomeações, colocando contudo em primeiro lugar quem mo ofereceu, porque a distingo neste campo:

Fárima André - http://revisitaraeducacao.blogspot.com/
Isabel Cabral - http://bc-beblogspotcom.blogspot.com/
Isabel Monteverde - http://imonteverde.blogspot.com/
http://www.lendosempre.blogspot.com/
Ana Luisa - http://falasesilencios.blogspot.com/
Fátima Carmo - http://montedosapo.blogspot.com/
http://clarissajoliv.blogspot.com/
http://simoneeducacaoniteroi.blogspot.com/
Carmo - http://avopirueta.blogspot.com/
http://agulhasetintas.blogspot.com/

Podem considerar-se todas autorizadas a colocarem o troféu nos respectivos blogs.
Parabéns
Licas

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

3ª HISTÓRIA



Pois a história do Senhor Pereira ... podia nunca mais acabar!

Vou contar outro episódio que define bem o seu carácter:

3º HISTÓRIA

TINHA TERMINADO UMA AULA.

Cautelosamente ele (Senhor Pereira) deixou que os colegas saíssem e, como se viesse tirar uma dúvida, disse-me assim:
- Senhora Drª, Não estou aqui para fazer denúncias, mas peço-lhe que perca um ou outro intervalo e observe a Alice (Uma sua colega de turma).
- Não quero para já assinalar mais nada, mas pode contar comigo se precisar de ajuda.

É evidente que a partir desse momento perdi vários intervalos.
A Alice, distinguia-se na turma pela sua timidez, silêncio e até uma certa “ausência”, não faltando porém, nunca às aulas.
Tinha um aproveitamento médio.
A mãe era professora primária, parecia atenta ao desenvolvimento da filha e comparecia a todas as reuniões para que era convocada. Às vezes mesmo aparecia por iniciativa própria, para saber informações da filha.
Falávamos muito sobre a sua timidez, o que a provocaria, que precisava de dar mais atenção a esta ou aquela disciplina, mas nunca aludi a qualquer acto ou momento grave porque realmente nada tinha ressaltado sobre a Alice no espaço turma.
As nossas conversas eram amenas e ficavam-se quase sempre por aí.

Realmente depois do alerta do Senhor Pereira perdi alguns intervalos, até que comecei a notar que durante os mesmos, a aluna parecia não estar tão só, nem tão isolada de alguns elementos da turma, apesar de continuar “apagada” e “pouco alegre”.
À sua volta, quase como abelhinhas rodopiavam constantemente colegas com sacos de batatas fritas, queques ou outro tipo de goludices.
A Alice porém, embora incluída no grupo, normalmente não partilhava desses lanches.
A primeira hipótese que se me colocou, foi a de que a criança não tivesse possibilidades para adquirir o mesmo que os outros e que se aproximasse deles para que eventualmente lhe oferecessem algo.
Um dia porém, reparei que a aluna logo que chegou ao bar retirou da carteira uma nota de 1000$00 e que de imediato se lhe juntaram os colegas e começaram a voar os sacos de batatas fritas e ...

Chamei o Senhor Pereira e perguntei-lhe se era costume acontecer com frequência aquela cena. Ele só me respondeu : - Que lhe parece?
Resolvi, abordar a empregada do bar e perguntar-lhe se por acaso notava que os alunos gastavam dinheiro exageradamente nos lanches.
Primeiro respondeu que não tinha dado conta, mas depois referiu que havia uma aluna do 8º ano, que gastava sempre bastante.
Perguntei-lhe se isso não a intrigava e como resposta ouvi somente :
- A mãe é professora deve poder dar-lhe aquilo tudo.
Como Directora de Turma, não só apelei à consciência profissional e de educadora da funcionária, ao dever que tinha em informar a D.T. de casos idênticos e posteriormente convoquei a mãe da aluna para uma reunião a fim de concluir a ficha da mesma.

VEIO DE IMEDIATO!

Comecei por tranquilizá-la, mas que me tinha surgido um dúvida e que gostaria de esclarecê-la.
Perguntei-lhe então:
- A sua filha costuma tomar o pequeno almoço em casa ?- Claro! Toma sempre um copo de leite e um pão com geleia (recordo-me muito bem
deste pormenor… )
- Depois para o meio da manhã dou-lhe dinheiro para um bolo
- Ela é gulosa? Gosta muito de batatas fritas e de chocolates ?
- Sim gosta, mas não é uma criança com uma tendência muito grande para esse tipo de
coisas. Gosta mais por exemplo de um copo de leite gelado ou de um queque.
Desculpei-me como pude e procurei saber quanto costumava dar-lhe por dia para gastar.

Já não me recordo muito bem dos preços da altura, mas o valor era equivalente ao preço de um copo com leite e um pão com manteiga.
Aí, tive mesmo que justificar a minha pergunta.
A Senhora, como acontece com todas as mães, sobretudo de uma aluna a quem nunca tinha sido apontada uma falha, revolta-se, diz que não pode ser, que há qualquer coisa errada, que deve ser outra aluna que traz o dinheiro e que lhe pede para ser ela a comprar...

Tentei acalmá-la e consegui que me prometesse nada fazer nem dizer a aluna, sem que ambas confirmássemos, pela atenção redobrada as nossas dúvidas.

Não foi preciso muito tempo!

Dois ou três dias depois, a mãe regressou muito chorosa, confirmando que a filha lhe retirava dinheiro da carteira e que até já tinham desaparecido uns bons pares de contos que ela tinha num mealheiro, fruto das prendas da comunhão solene, aniversários e Natais.
Dizia-me entre soluços, que nem coragem tinha de lhe falar, mas que estava muito magoada e queria castigá-la. – Mas se o Pai sabe... concluiu.

PERGUNTEI-LHE:
- Não acha melhor que tenhamos as três uma conversa , para que a Alice se explique?- Não haverá nenhuma razão implícita ?

Um pouco relutantemente a mãe concordou e para que não houvesse qualquer hipótese de que alguém percebesse, combinamos encontrarmo-nos, como que casualmente, naquele cafezinho que ainda hoje existe ao fundo da Avenida da Boavista (Vera Cruz).
A miúda quando me viu no café e pressentiu que a mãe vinha sentar-se com ela na minha mesa, mesmo antes de qualquer pergunta, começou a chorar copiosamente e só dizia:
- Não foi por mal ! Eu apenas não queria estar só! Eu queria que gostassem de mim! -Eu queria ter amigos …Eu sou antipática, ninguém gosta de mim!

Já não foi preciso abrirmos a boca … Percebemos!

Cada uma de nós procurou encontrar uma solução.
Socorri-me então do Senhor Pereira.
Expliquei-lhe a tristeza da aluna, a solidão que ela sentia na Escola e pedi-lhe que zelasse um pouco pela sua integração na turma.
Pelo meu lado, a pouco e pouco comecei a passar os meus intervalos com estes alunos, procurando duma forma ou de outra elevar a auto-estima da Alice, proporcionar-lhe momentos de felicidade e descontracção e aproveitei igualmente para observar mais de perto os outros elementos e ir actuando da forma que entendi na altura mais correcta.
Sei, que no final do ano tive dificuldade em separar-me deles!
Quiseram que eu fosse na tarde do último dia de aulas, com eles para a Rotunda da Boavista, onde já estavam montadas as barraquinhas para o S. João.
Andamos no carrossel, carrinhos de choque, túnel do terror e acabamos, a comer farturas e a beber sumo.

Apesar da minha inexperiência, este caso correu muito bem. Não foi alheio o empenho e bom senso da mãe da Alice, a atitude crítico-construtiva do Senhor Pereira e a confiança que lhes incuti.

Passaram-se muitos anos…

Estava eu numa sala de espera de um gabinete médico de um ginecologista, quando uma rapariga com cerca de 25 anos se me dirige e pergunta:
- Não é a Drª Isabel ?
- Eu sou a Alice. Lembra-se que eu era muito acanhada e triste ? Lembra-se que um dia fui lanchar com a minha mãe e a Senhora ao Café Bela Vista ?
Claro que me lembrei de imediato!
Fiquei feliz por ver uma rapariga tão desempoeirada. Estava licenciada em Biologia, tinha casado e julgava que estava ali para saber se ia ser mãe.
Perguntou-me depois:
- Sabe o que fiz quando ganhei o meu primeiro ordenado? Fui guardá-lo no mealheiro, que um dia esvaziei. Lembra-se?
- Agora vou tentar educar os meus filhos de forma a que nunca façam a asneira que eu fiz.

Chamaram-me para a consulta, mas ainda ouvi dizer:

- Nunca a esquecerei e tenho o maior respeito pelo Senhor Pereira. Gostava de saber dele e tê-lo no rol dos meus amigos.
- Adeus Alice! Sê Muito Feliz. Repliquei.