segunda-feira, 17 de novembro de 2008

A TOLERÂNCIA CONSTRÓI A PAZ


Ontem, dia 16 de Novembro, celebrou-se o Dia da Tolerância!
Acho um tema interessante para desenvolver, porque cada vez mais este conceito parece estar a desaparecer das nossas vidas e até o seu significado a esbater-se no interior do dicionário.

Citações:
«A tolerância é a caridade da inteligência» (Jules Lemaître).
«Ela implica que os outros não pensem como nós, sem por isso os odiar». (P.H.Spaak).
«A tolerância é este género de sabedoria que ultrapassa o fanatismo, este terrível amor da verdade» (Alain).
«A tolerância é uma ascese no exercício do poder» (Paul Ricoeur).



Vou pois pensar um pouco convosco...

A palavra tolerância, provém da palavra Tolerare que significa etimologicamente sofrer ou suportar pacientemente.
O conceito tolerância radica na aceitação daquilo que se apresenta distinto da maneira de agir, pensar e sentir de cada um.
Este tolerar pode significar uma simples aceitação das diferenças, ou uma capacidade maior de aceitação e integração de alguém que por diferentes razões é diferente de nós próprios.

Talvez se compreenda melhor se recuarmos um pouco até à fundamentação teórica deste conceito e perguntarmos...
Será a tolerância uma exigência moral? Teológica?

Segundo alguns filósofos há quatro perspectivas essenciais sobre a fundamentação da tolerância.

1. A Tolerância como Prudência. Pode tolerar-se por mero calculo, tendo em vista, por exemplo, evitar conflitos quando não se têm a certeza quanto ao desfecho final dos mesmos. Pode também tolerar-se posições contrárias quando não se tem a certeza sobre algo.

2.A Tolerância como Indiferença. Pode tolerar-se por uma questão de princípio relativista. Se aceitarmos que não existem verdades absolutas, então todas as posições se tornam legítimas e aceitáveis. Pode tolerar-se também devido há ausência de convicções e valores próprios. Neste caso aceita-se as ideias do Outro não por respeito, mas porque não se possui nada para opor ou defender. Nesta perspectiva, a tolerância terminar quase sempre no indiferença, onde a verdade e a mentira se equivalem.

3. A Tolerância como Culto das Diferenças.Podemos ser tolerantes por respeito pelas diferenças do Outro. Nas nossas sociedades, este tipo de tolerância manifesta-se frequentemente em relação a duas situações muito distintas: a) Aceitam-se e respeitam-se as diferenças daqueles que outrora foram discriminados, como os homossexuais;
b) Aceitam-se e respeitam-se todas as culturas que antes foram discriminadas ou combatidas. Neste último caso, a sua negação é assumida como um empobrecimento da diversidade cultural da humanidade. Este princípio tem servido tanto para fundamentar o multiculticulturalismo como o racismo e a xenofobia. Na verdade a aceitação da identidade cultural do Outro não significa que o aceitamos como igual, nem sequer que aceitemos conviver no mesmo espaço."Iguais, mas separados" é, não nos podemos esquecer, um dos novos lemas do racismo.

4. A Tolerância como uma exigência dos Direitos Humanos. Desde a antiguidade clássica que a especulação sobre a natureza humana se traduziu na afirmação de que todo o ser humano possui um conjunto de direitos fundamentais ou naturais imutáveis: liberdade, dignidade, etc. Baseado neste pressuposto, John Locke, por exemplo, irá fundamentar a tolerância.

Agora...
É inquestionável que a tolerância não é universal e constante. Tem, como tudo na vida, os seus limites pelo que deve ser exercida conscientemente , respeitando os direitos individuais, incluindo os seus próprios direitos, enquanto ser humano, cidadão, trabalhador ... A tolerância ilimitada e mal dirigida pode levar a dicotomias tão flagrantes que neguem a própria verdade e significado da existência e revertam o fim único desta atitude social ou individual que nos leva, não somente a reconhecer o direito a opiniões diferentes, mas também a difundi-las e manifestá-las pública ou privadamente.

E termino com uma frase de Confúcio, que julgo resumir a essência desta virtude

"Ninguém deve crer que sabe mais que os demais e que a razão está só com ele"

Privilegiar a liberdade sobre qualquer forma de dogmatismo, é a essência da sã convivência entre os homens.
Isto verifica-se na sociedade e muito especialmente nas famílias.
A intolerância creio, é a verdadeira e única razão dos divórcios, da violência doméstica, do desvio dos jovens, do insucesso escolar e de todas as situações angustiantes que povoam o mundo e especialmente, porque nos afecta mais directamente, que afecta Portugal.

4 comentários:

**Lih** disse...

Intolerancia gera muitos conflitos desnecessários, faz um mal enorme.

Venha ver as fotos no meu blog de uma feira de artesanato mundial que esta acontecendo aqui na minha cidade.

Tenha um otimo dia!

Beijinhos!!!!

ematejoca disse...

Gostei muito deste texto sobre a tolerancia.

Esta máxima de Voltaire:

"Posso não concordar com nenhuma das palavras que alguém disser, mas defenderei até à morte o direito que tem em dizê-las".

também tem a ver com a tolerancia.

Saudacoes quase invernais de Düsseldorf!

BC disse...

Olá Licas!
Quando poder passe pelo meu blog queria que lesse a reposta ao seu comentário sobre as Berlengas, depois volto aqui.
Beijo
Isabel

Anónimo disse...

Olá!
Gostei imenso das suas palavras. Concordo com quase tudo, mas acho que a tolerância tem uma relação directa com o acomodar. Por vezes acomodámo-nos à personalidade de outra pessoa mesmo sem tolerarmos o seu mau feitio ou obsessões.´Faz parte da vida e do saber vivê-la. Se quiser visitar o meu blog de arte tenho muito gosto em recebê-la.
Beijinho.