E já vou na 12ª História real da minha vida enquanto professora.
Reparei ao relê-las, que até agora apenas recordei momentos positivos relativamente às minhas práticas. Posso com isto estar a dar uma imagem pouco real, porque ninguém acredita que durante uma vida profissional nunca se cometa um erro.
Por isso, esta 12ª HISTÓRIA, é muitíssimo mais recente - terá aí uns seis ou oito anos - e traduz um deslize meu, que felizmente não teve consequências, mas em relação ao qual me penalizo muitas vezes.
Então:
HISTÓRIA 12:
Era Presidente do Conselho Executivo há uns 5 ou 6 anos,de uma Escola E.B. 1,2 e Jardim de Infância, numa das mais complicadas escolas do Porto - um Território Educativo de Intervenção Prioritária - frequentado por crianças dos 3 aos 17 anos.
A população era maioritariamente de etnia cigana, africana e cabo-verdeana.
Tornava-se muito difícil, não apenas transmiir matéria, mas e sobretudo estimular os alunos e diminuir o abandono escolar.
Procurei de diversas formas motivar toda a Comunidade Educativa e sobretudo incutir-lhes confiança e empatia.
Foi um trabalho moroso, difícil, mas começava a dar frutos...
Tinha sido criado na escola o primeiro grupo de danças e cantares ciganos - Fogueira Viva - e por ele as crianças não faltavam e o seu comportamento e aproveitamento gradualmente tornaram-se mais positivos.
Porque as características do bairro eram mesmo muito peculiares, existiam outras organizações a trabalhar com crianças - não apenas da nossa escola, mas também outras que habitavam neste aglomerado populacional- oferecendo-lhes actividades lúdico-pedagógicas, na tentativa de os tirar da rua e alterar certos comportamentos.
Estabeleceu-se um intercâmbio e cumplicidade muito grandes entre a escola e estas organizações.
Um dia pensámos ...
E se para lhes aumentarmos a auto-estima propuséssemos à RTP, uma visita nossa à Praça da Alegria, com a apresentação dos vários grupos existentes?
Levámos para a frente o projecto e numa data aprazada ... lá fomos.
Aqui começa verdadeiramente a história.
Na mesma camioneta ia o grupo da escola (com 15 alunos) e outro grupo de outra organização social, que também tinha alguns alunos da escola. Cada um de nós responsabilizava-se pelas suas crianças.
Preparei tudo, enviei o pedido de autorização aos pais, dei a indicação dos horários e pedi aos funcionários que arranjassem para o lanche, 15 croissants com fiambre e 15pacotes de leite com chocolate para lhes dar no regresso.
Foi uma tarde (O programa não era em directo) muito divertida, os meninos portaram-se muito bem e estiveram interessadíssimos com tudo.
Quando terminou, viemos embora.
Coloquei-me à porta da camioneta e à medida que entravam eu ia dando o leite e o croissant. Dei os 15 saquinhos, que correspondiam aos 15 alunos que a escola tinha levado.
Depois entrou o outro grupo pelo qual eu já não era responsável.
Chegámos à escola sem incidentes. Os pais muito felizes esperavam-nos.
Despedi-me e regressei a casa.
No dia seguinte quando estacionei o carro, vi que um dos seguranças vinha na minha direcção e avisou-me que estava um pai muito irritado à minha espera.
Pediu-me que tivesse calma e tentasse agir com cuidado.
Eu estava a leste do que se tinha passado e como eram costume estas más disposições dos pais, entrei com o meu sorriso de sempre, mas logo o perdi porque o senhor caiu sobre mim como um cão enraivecido.
Com calma pedi que parasse e que tentasse explicar-me a razão daquela atitude.
Com a ajuda dos seguranças, estabeleceu-se um pouco a ordem e o senhor perguntou-me porque razão tinha deixado o filho dele no edifício da RTP.
Senti o chão a fugir-me sob os pés!
Eu, sempre tão cuidadosa... Como teria sido possível?
Naquela altura, nem procurei compreender, apenas pedi muita desculpa, mostrei-me muito envergonhada e depois de uns momentos de maior tensão,lá consegui que o pai saísse sem ressentimentos.
Acredito que se ele tivesse uma atitude mais violenta comigo eu teria que compreender porque realmente ERREI.
Faltava-me porém entender o que se tinha passado. Pois se eu até levei 15 croissants e distribui-os a todos à entrada da camioneta... como é que o alunos ficou lá dentro.
Depois de muitas voltas e perguntas conclui...
Realmente distribui os 15 croissants. Só que uma das crianças do outro grupo, que também era aluno da escola, quando viu eu dar o lanche aos meus, saiu do seu grupo e meteu-se no meu.
Claro que como eu o conhecia muito bem, nem reparei que não fazia parte do meu grupo.
O responsável do outro grupo quando os contou, efectivamente "os seus" estavam lá todos.
Portanto eu errei. Nunca deveria ter apenas contado os alunos, mas feito a chamada pelos nomes próprios.
Que vergonha!!!!
Jamais me esqueci deste incidente e se até aí tinha cuidado, a partir daí fui completamente intransigente comigo própria e com os alunos.
São os erros que nos fazem crescer, mas são os erros que nos fazem corar.
4 comentários:
Mas a culpa não foi sua, de todo Licas, ainda teve a boa vontade de distribuir o lanchinho pelas crianças e ainda levou por tabela.__________
O aluno é que se deslocou para o sítio errado.____________
Conclusão da história, vamos sempre aprendendo com os erros, nem que seja toda a vida._______
Beijinhos
Isabel
Como diz o ditado "errar é humano", mas corrigir o erro também o é. A humildade de pedir desculpa quando erramos é parte do caminho. Evitar os erros é a outra parte. Aprendemos muito com as nossas falhas, quando queremos.
Nunca perdi nenhum aluno em visita de estudo, mas já estive bem próxima disso. Felizmente, até ao momento, só apanhei pequenos sustos.
Mas é evidente que é com os erros que se aprende. De qualquer forma, um erro desculpável, tendo em conta que o aluno devia estar junto dos colegas e não estava, e o outro para papar o lanchinho se enfiou no meio de um grupo que não era o dele...
Beijocas!
Houve aqui uma história parecida. A professora deixou duas alunas no sítio, que tinham visitado.
Claro, que os pais apareceram para saber porque razão as filhas não regressaram a casa. Mas não houve, nem pais violentos, nem segurancas.
A professora teve mais cuidado no próximo passeio. Tenho a certeza, que a professora não se sentiu tão culpada como a Licas.
O que me horroriza nas suas histórias é a violência dos pais.
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